GUAIANASES 155 ANOS // BLOG OFICIAL DE GUAIANASES // ANO XI

9 de setembro de 2009

Escuderia Arrocho - 40 anos

29 de agosto de 2009. Comemoração dos 40 anos da Escuderia Arrocho. Amigos nascidos, criados em Guaianases, sendo que a maioria ainda mora e/ou trabalha por aqui.

Em emocionado discurso homenageando os amigos que hoje não se encontram entre nós, lá foi dito que seus integrantes foram bons filhos para seus pais, mais tarde bons pais para seus filhos, com a felicidade de hoje terem bons filhos também.

Trascrevo aqui o texto redigido pelo Professor Carlos Thadeo, que descreve a época e o que significa a idéia da Escuderia Arrocho.

PRIMAVERA DE 68 E VERÃO DE 69

Os acontecimentos no mundo naquele período de profundas mudanças no comportamento e na geografia mundial, causada pelas revoltas e pela expansão da Guerra Fria, culminado com a invasão dos tanques soviéticos à Praga, capital da então Tchecoslováquia, episódio que marcou a história universal como a Primavera de Praga, davam idéia do que seriam os novos tempos.

O mundo estava se preparando para novas surpresas; o homem estava preste a descer em solo lunar; o Dr. Christian Barnard, na África do Sul, realizara, com êxito, o pioneiro transplante de coração; Pelé iniciava contagem progressiva em busca de seu milésimo gol; Woodstock elaborava planos para o festival de cores, música, sexo e drogas, com ares de liberdade plena que chocou o conservadorismo no mundo e mudando modos e costumes da juventude que clamava por liberdade de expressão; os Beatles fechados nos estúdios londrinos da Apple gravavam as faixas de Abbey Road, para muitos críticos, seu mais importante álbum, que, infelizmente, também foi o último; os estudantes tomavam as ruas de grandes cidades, enfrentando as cavalarias e as tropas militares com seus slogans de peace and love, protestando contra a Guerra do Vietnã. Foram tempos alegres e ao mesmo tempo sombrios, de um misto de alegria, êxtase e dor.

No Brasil vivíamos os chamados anos de chumbo, as reuniões proibidas, a livre expressão de pensamentos punida com prisões arbitrárias e descabidas. Quem não se recorda das famosas batidas realizadas pela Força Pública, que com truculência desmedida, sob covardes golpes de cacetete, atiravam em camburões estudantes e trabalhadores, como se fossem perigosos marginais. O Ato Institucional nº5, o famigerado AI5, ganhava contornos e forma no pensamento e bastidores da Ditadura Militar, o Congresso Nacional se reunia sob prenúncios de censura e intervencionismo, que acabariam por vir. Enquanto a Ditadura Militar patrocinava toda sorte de proibições, Caetano Veloso cantava em verso e prosa que “é proibido proibir, fora do tom, sem melodia...”.

Dentro desta atmosfera um grupo de jovens do subúrbio paulistano, no limítrofe bairro de Guaianases, reuniu-se em busca de um sonho que ousasse modificar a realidade provinciana do local. Em bate papos nas esquinas, no Bar Santa Helena, no salão do Santa Cruz, nas corridas de carrinho de rolimã na Estrada da Passagem Funda, foi dando forma e vida a um ousado projeto: criar uma escuderia. Ainda como Caetano, “caminhávamos contra o vento sem lenço e sem documentos num sol de quase dezembro”.

E foi ali entre a primavera de 1968 e o verão de 1969, que surgiu a ESCUDERIA ARROCHO, uma iniciativa de um reduzido grupo, que, aos poucos, foi ampliada. A alegria e a imaginação dos componentes da escuderia romperam fronteiras, alastraram-se como um rastilho de pólvora, irradiando felicidade e esperanças por toda uma região. Tomaram ruas, praças, bares, salões, lares, enfim, a geografia regional.

Hoje, passados quarenta anos daqueles acontecimentos que modificaram o mundo, ao olhar para dentro de nossas almas, nos recônditos da felicidade e alegria, podemos atestar a importância da Escuderia Arrocho em nossas vidas, em nossas histórias de vida e realizações, fomos, somos e seremos resultados de um sonho jovial, de uma vontade de mudar, de buscar modificar o nosso mundo através de nossas ações e realizações. Aquela primavera e aquele verão transformaram nossas vidas para melhor!Marcou a nossa juventude para sempre!

Há um pensamento filosófico de que o homem é produto do meio. Podemos concluir com a mais absoluta das certezas, de que somos produtos daquela primavera e daquele verão, que deixaram marcas indeléveis em nossa formação e caráter.

Agora é tempo de olharmos dentro de nossos olhos, e com os corações rejuvenescidos pela alegria do reencontro, continuar a trajetória sob uma nuvem carregada de paz, harmonia e felicidade, em que num louco sonho imaginário, vemos os rostos joviais e risonhos daqueles que, infelizmente, não mais se encontram fisicamente entre nós, e que no azul do infinito, quarenta anos depois, ousam desafiar regras e preceitos ao escreverem uma mensagem: Arrocho para sempre!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...